O aluno está deixando o barco correr, estudando para o Enem sem saber exatamente o que vai encontrar. A afirmação, do professor de matemática do Universitário, Floriano Cunha, reflete um pouco aquilo que pensam os vestibulandos. A reportagem de ZH foi a dois cursinhos pré-vestibular da Capital constatar que o número de dúvidas a respeito do exame aumenta à medida que cresce, também, o número de participantes.
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Os questionamentos da gurizada vão de partes específicas do exame, como o tipo de texto exigido da prova de redação, até a metodologia utilizada na elaboração e correção das provas, a polêmica Teoria de Resposta ao Item (TRI), que aplica pontuações distintas a candidatos com o mesmo número de acertos.
Desde que a UFRGS anunciou que 30% das vagas de ingresso em 2015 serão destinadas ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) – baseado na nota do Enem –, o interesse dos jovens pelo exame cresceu. Nos cursinhos, professores passaram a ser questionados sobre uma prova que, segundo eles, ainda busca identidade. Para Floriano, o concurso não se resume mais a questões interpretativas, com enunciados longos, que procuram fazer relações com o cotidiano do aluno.
– De 2011 pra cá, o Enem se "vestibularizou", se aproximou dos vestibulares tradicionais. E na última edição ocorreu algo muito curioso: ele passou a ter uma parte "vestibularizada" (com questões mais diretas) e outra parte "enenzada" (de perguntas mais interpretativas). Então, ele, até aqui, não tem uma linha definida – comenta.
Régis Gonzaga, professor de matemática do Grupo Unificado, acredita que o Enem mudará progressivamente, ficando cada vez mais semelhante aos vestibulares.
– O Inep (responsável pelo Enem) era radicalmente contra o conteúdo nas provas, mas fez uma transformação. A tendência é de que, cada vez mais, elas cobrem conteúdos. Como alguém vai fazer Engenharia sem conhecer funções? O exame vai cada vez mais se adequar às exigências das grandes universidades – afirma.
Confira algumas das dúvidas de estudantes sobre o Enem:
Como é o ingresso nas universidades públicas pelo Sisu e como funciona a nota de corte?
Bianca Oliveira, 17 anos e Thiago Rychescki, 18 anos
O Sisu é o Sistema de Seleção Unificada, sistema informatizado gerido pelo Ministério da Educação (MEC), por meio do qual universidades públicas podem oferecer vagas a participantes da edição mais recente do Enem. Em conjunto com o exame, tende a substituir os vestibulares de universidades federais e estaduais em todo o país.
As inscrições abrem no início de cada semestre e, além da participação no último exame nacional, requerem que o candidato tenha obtido nota acima de zero na redação.
Já a nota de corte – menor nota para ficar entre os potencialmente selecionados – é calculada diariamente, com base no número de vagas disponíveis em cada curso e no total de candidatos inscritos. É uma referência para auxiliar o candidato a monitorar sua inscrição, que pode ser consultada na página do Sisu.
Existe a possibilidade de aumentarem o tempo de prova? Parece muito curto.
Jivago Dornelles, 20 anos
Em contato com a assessoria de comunicação do Inep, a reportagem do ZH Vestibular recebeu uma resposta direta sobre o tema: os organizadores não preveem a ampliação do tempo de prova nas próximas edições. No sábado, 8 de novembro, primeiro dia de aplicação do Enem, serão realizados testes de Ciências Humanas e suas Tecnologias e de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, com duração de 4 horas e 30 minutos. Domingo, quando serão aplicadas as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação e Matemática e suas Tecnologias, o tempo será de 5 horas e 30 minutos.
Aparentemente, é tempo suficiente para que o candidato responda às 90 questões de cada dia com tranquilidade, mas muitos estudantes se queixam daextensão da prova, a qual consideram cansativa. Lá pela 50ª pergunta, o estudante não está com a capacidade de raciocinar tão rápido e os cerca de três minutos por questão se vão num estalar de dedos.
– O que o candidato precisa fazer é passar por toda a prova, escrever a redação com a cabeça leve e ir resolvendo as questões que parecem fáceis. Depois, é preciso voltar para o começo e gastar o tempo restante com as mais complicadas – sugere o especialista em Enem Mateus Prado.
O Enem tem sistema de cotas?
Rafaela Moutinho, 17
No que tange ao acesso ao Ensino Superior, sim. O Sisu, que classifica as notas do Enem para o ingresso em universidades públicas, reserva parte das oportunidades para ações afirmativas. As instituições devem garantir, no mínimo, 25% de suas vagas para alunos cotistas. Podem concorrer estudantes autodeclarados pretos, pardos ou indígenas ou que cursaram o Ensino Médioem escolas públicas.
Como funciona o sistema de pesos por questão no Enem?
Cibele Bock, 21 anos
O Enem adota a Teoria de Resposta ao Item como método de avaliação. Nos vestibulares tradicionais, como a UFRGS, as notas são o resultado do somatório de questões acertadas. No Enem o resultado final não está apenas relacionado ao número de respostas corretas, mas a diversas outras variáveis, incluindo acoerência das respostas de cada candidato sobre cada assunto. Assim, se um candidato acertar uma pergunta considerada difícil e errar uma fácil sobre um mesmo tema, pode receber menos pontos na comparação com o que acertou a fácil e errou a difícil. Não à toa, é conhecido entre vestibulandos como "método antichute", uma vez que conseguiria diminuir o peso de uma questão chutada na hora de estimar a média do candidato.
O grau de dificuldade das perguntas que compõem as provas do exame é calculado a partir de um pré-teste que é realizado com estudantes do Ensino Médio. A partir das respostas dadas, é estabelecida uma estimativa da dificuldade de cada item.
Como fica entrar na UFRGS agora que a universidade aderiu ao Sisu?
Jocássia Motta, 18
Em decisão aprovada pelo Conselho Universitário da UFRGS, ficou definido que a universidade reservará 30% de suas vagas para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) em 2015 e ainda prevê ampliar este percentual para 50% em 2016. Ou seja, uma vez que o candidato só ingressa no sistema por meio de sua nota no Enem, podemos afirmar que a porta de entrada na UFRGS pelo exame se abriu um pouco mais – será possível, para um mesmo período de ingresso, tentar o acesso pelo Sisu e pelo velho concurso vestibular.
Porém, a adesão ao sistema unificado do governo também terá impactos para quem tenta o acesso "tradicional". É o que afirma Cristiano Santos, professor de matemática do Grupo Unificado:
– A redução do número de vagas pelo acesso universal elevará um pouco a média do último colocado de cada curso. Os últimos colocados que entraram no ano passado possivelmente não vão entrar este ano. Esta é a lógica que a gente trabalha e orienta aos vestibulandos.
Segundo Santos, a adesão progressiva da UFRGS ao Sisu deve alterar o perfil do aluno da universidade.
– A tendência é de que o Enem também fique mais concorrido. A UFRGS é uma universidade visada, bem classificada no ranking nacional. Alunos de outros Estados que não vieram nos últimos anos possivelmente agora virão. Seria um processo muito parecido com o que aconteceu quando a Fundação (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre) aderiu ao Enem.
É verdade que o Enem tem questões com mais de uma alternativa correta?
Jéssica Vigano, 19 anos
Segundo o Inep, não – embora alguns professores já tenham se queixado da existência de questões interpretativas em que mais de uma resposta deveria ser considerada correta. A queixa não é exatamente uma exclusividade do Enem, já que é comum concursos de modo geral anularem questões por ambiguidade ou imprecisão nas respostas.
Se apresentar um atestado médico comprovando que tenho déficit de atenção ganho mais tempo para fazer a prova?
Vlademir Menezes, 21 anos
Sim, é verdade: candidatos que informem, no ato da inscrição, sofrer de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) dispõem de uma hora a mais para responder o exame e de "ledores" (assistentes na leitura das questões) e "transcritores" (assistentes na hora de passar as alternativas escolhidas para a folha de respostas). O Inep pode pedir documentos que comprovem a condição a qualquer momento – tenha-os consigo nos dias de prova.
Fonte: Zero hora - 11/09/2014